17 outubro, 2013

Nova Biblioteca - A hora é agora (Jailson Vital)



Por Jailson Vital de Souza 
jalvital@gmail.com
Vitória-ES


Há algum tempo que, sempre que vou a Pernambuco passo pelo menos um final de semana em Custódia. A cada visita me surpreendo com algo novo. O crescimento demográfico urbano é impressionante. O cemitério que nos meus tempos de infância ficava bem afastado da periferia da cidade, hoje, encontra-se a bem dizer circundado com as construções de casas que estão sendo feitas nos loteamentos ao seu redor. O movimento do comércio e a diversidade de serviços, cresceu muito com o aumento da capacidade de compra da população, alavancada principalmente pela quantidade de empregos ofertados pelas obras do governo federal em andamento.

No entanto, há algo que está imutável através dos tempos e posso dizer sem erro, desde os meus tempos de estudante, e bote tempo nisso. Imutável não! Em decadência contínua! Trata-se da biblioteca municipal. Localizada ao lado da casa da minha tia, eu não poderia deixar de ver o descaso com que essa instituição foi e é tratada governo após governo. Abre diariamente e sempre teve uma funcionária sempre presente, não se sabe para que, pois os livros que ainda restam estão misturados nas prateleiras sem qualquer critério de arrumação ou catalogação, mesmo porque a funcionária não foi treinada para isso. Parece que nenhum prefeito olhou para a biblioteca como um órgão importantíssimo na complementação da educação recebida pelos nossos jovens na escola. 

Em uma sociedade carente como foi e hoje se esforça para sair dessa carência econômica como a de Custódia, seria na biblioteca, onde a juventude, principalmente, poderia procurar as informações complementares às que recebe nas salas de aula e onde o professor iria procurar aprimoramento aos seus conhecimentos além de aumento a sua capacidade intelectual. O preço do livro desestimula a sua compra, cabe ao poder público prover esse benefício à população. 

Tenho notado a vontade da juventude de formar grupos para a realização de eventos culturais como o grupo de danças Luar do Sertão, formado por jovens que se esforçam nessa tarefa com seus próprios recursos financeiros e conhecimentos literários, além da formação de jovens na arte de representar, iniciativa louvável do ator Humberto Guerra e anteriores tentativas de formação de grupos teatrais.. Mas é necessário que esses jovens encontrem fontes de pesquisas para se aprimorarem nas suas artes ou ficarão na mesmice. 

O livro é um portal mágico que transporta quem o lê para distâncias inimagináveis e tempos vetustos ou futuros. É lendo livros que podemos sair dos nossos limites físicos e viajar através das palavras e imagens para, por exemplo, Paris; entrar no museu do Louvre e conhecer as obras dos grandes mestres da pintura universal, ir a Atenas até a Acrópole conhecer a arte da arquitetura grega, mergulhar nas teorias do princípio do universo e da raça humana, tomar ciência do que estamos fazendo com o nosso habitat, a terra, e dos possíveis destinos que nos aguardam, conforme nossas atitudes.

É conhecendo a nossa história que evitamos que os erros cometidos se repitam. Lendo, nos abstraímos e incorporamos os personagens de um romance e nos deliciamos e sofremos com suas aventuras, enquanto percebemos o estilo que o escritor usa para tecer a trama. É nos livros que aprendemos novas palavras, novos conceitos, refinamos nosso poder de avaliação, mudamos ou reafirmamos nossas opiniões com maior sabedoria, escolhemos melhor nossa comida, nossa bebida, nosso lazer, as músicas que ouvimos; as nossas companhias, tomamos conhecimento dos nossos direitos de cidadão e podemos avaliar melhor os candidatos que pretendem nos governar. 

Custódia está passando por um momento excepcional, mas não nos enganemos que seja o suficiente. A atividade econômica pode continuar crescendo ou arrefecer quando faltar o pleno emprego, conforme as ações dos administradores públicos e dos empresários, mas o investimento que sustentará a capacidade de crescimento econômico, social e cultural é sem dúvida nenhuma o investimento na educação. A construção de um novo prédio para a biblioteca; mais amplo, com capacidade de abrigar um acervo importante, a instalação de computadores para gerenciar o acervo e prover acesso à internet, dirigidos à consulta e estudos, o emprego de um(a) bibliotecário(a) ou pessoa capaz de fazer indicações e devidamente treinada nos assuntos de gerência de uma biblioteca, a atuação da Prefeitura junto ao Ministério e Secretarias Estaduais da Educação e Cultura, campanha de doação de livros novos e usados pela população e empresas, torna-se nesse momento essencial e inteligente. 

A professora Zilda Simões está precisando de uma casa digna. Os professores terão papel de importância primordial no funcionamento da biblioteca. Na divulgação, incentivo à leitura, indicação, uso e interpretação de textos na sala de aula. 

Caros conterrâneos custodienses: o cavalo da oportunidade está passando na nossa porta selado e encilhado. Montemos agora, pois se deixarmos para depois, talvez só vejamos a poeira deixada pelos seus cascos. 

(*) Todo e qualquer texto publicado não reflete necessariamente a opinião deste blog. Refletem apenas a opinião do autor.

2 comentários:

  1. Meu caro amigo Jailson.
    Muito oportuno este teu postado sobre o que realmente alavanca o progresso sustentado e perene não só de Custódia, mas de qualquer lugar no mundo.Vejamos os exemplos dos orientais.
    Não comento se o regime é assim ou assado, porém uma única citação de Fidel Castro, exprime bem o orgulho daquele ditador. Disse Ele: SE EM ALGUM LUGAR DO MUNDO HOUVER UM ANALFABETO, COM CERTEZA NÃO SERÁ UM CUBANO...!
    Para os nossos políticos, cultura é atrazo e ler é um suplício.
    O que me preocupa neste "boom" vivenciado por Custódia, é quando as máquinas se forem.
    Fernando Florencio
    Ilheus/Ba
    Fernando Florencio
    Ilheus/Ba

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  2. Jailson, parabéns pelo belo texto. Apelativo, no bom sentido, pertinente e objetivo. A biblioteca da minha querida cidade, incorpora a própria visão estreita e oblíqua, de políticos sem compromisso algum com nada, que habitaram o governo Municipal por décadas (perdidas)
    Jorge Farias Remígio

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