01 novembro, 2020

Por que se passaram 12 anos - por Ana Amaral



Queridos,

Estes dias eu não tenho tido tempo para pensar muito, tudo tem sido atropelado com o corre corre dos preparativos da minha viagem. Mas, em meio a tudo isso, eu estou preparando meu currículo, e uma das coisas que me foi requisitada, foi uma explicação porque eu me afastei da ciência por 12 anos…isso me fez pensar em muito mais do que a minha vida profissional…me fez pensar na minha vida, na família, nos amigos, em tudo que ficou para trás…em dez anos de vida nova, língua e costumes novos, um engatinhar de novo…

Porque eu deixei tudo para trás e mudei de pais, deixando uma historia, duas filhas, familia, e amigos que me conheciam de muitos anos, foi uma escolha de sobrevivência. Me lembro que no começo da minha adolescência, eu sonhava com a minha própria “grande familia”, nunca gostei de ser filha única, eu viveria uma linda historia de amor, e teria filhos, muitos, e seria feliz para sempre…não foi assim, minha fantasia de menina nunca se concretizou, em todas as tentativas de amar, não tive muitos filhos, e nao fui feliz.

Apenas, minhas duas filhas no final de tudo valeram a pena, e por elas e para elas, eu “atravessaria o mar”, e atravessei o continente, e cheguei na América, dez anos atrás, sem dinheiro, sem documento, sem identidade, só com uma única motivação, continuar lutando.

Os primeiros dias foram dificies, o frio, a saudade, você chora até com comercial de TV, Globo, porque os canais americanos você não entende nada. Os outros dias você começa a se misturar com a vida, com a falta de vida, com a solidão. Ai um dia, por providência de Deus, você encontra uma Igreja, que fala a sua língua, que o povo fala alto igual a você, e beija muito e abraça muito, e todo mundo tem a mesma história, só muda o endereço.

No meio de tudo isso, o tempo passou, eu já não era mais a mesma Ana, mudei de casas, fiz novos e bons amigos, que permanecem até hoje. Já não riu em câmera lenta, o riso vem simultaneo com o programa na TV, já resolvo a vida na nova língua e cultura…

Ai, chega o dia de voltar, acabou a prisão voluntária, você é livre…vou visitar é claro, ainda não é hora de regresso. Então olho pra trás e vejo,…”quantas coisas tem feito o Senhor por nós”…aqui, virei mãe de duas mulheres maravilhosas, aqui, virei avó da Lalai, a menina mais linda e meiga do planeta, virei avó de um príncipe que se chama Henrique, aqui também virei esposa de um homem apaixonante, um presente do Pai, que conhece o coração da filha…aqui ganhei três filhos, aqui me apaixonei mais por Jesus…

Hoje ouvi muitas vezes, tudo mudou, Feira de Santana, a terra que cresci, já não é mais a mesma, a praça de Custódia, onde nasci, não parece nada de antes, talvez muita coisa não esta no mesmo lugar, mas, eu sei que a emoção de quando encontrei “Arroz Tio João”, e abracei e beijei, sabão Phebo, não pode ser diferente ou menor de quando, senti o cheiro da minha terra, o abraço do meu povo, o som da minha língua…essa essência não muda, a minha essência não muda, o sol do meu país não muda…as cores não mudam…eu serei sempre brasileira, de volta pra casa…

Um beijo de saudade aos amigos que ficam, um mês sem minhas histórias, e a expectativa de rever os velhos e bons amigos…

Por Ana Amaral Bennett

2 comentários:

  1. Tia Ana!!!!!
    Mulher guerreira, que sempre buscou a sua felicidade!
    Isso é um exemplo de vida!
    Bjão e o tradicional "saudades" :D

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  2. Paulo, cada vez que visito o blog, ele está cada vez melhor e mais bonito!
    Parabéns por esse blog maravilhoso!
    Abraços.

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